Elementos centrais da análise de conflitos

conflito violento é sobre política, poder, contestação entre atores e a (re)formação de instituições para o benefício de alguns (e à custa de outros). As pessoas e os grupos não se combatem aleatoriamente uns aos outros, mesmo que prevaleçam desigualdades gritantes ou outras queixas numa sociedade, é preciso mobilizá-los. A compreensão destes processos de mobilização é fundamental para compreender os conflitos violentos.

a literatura utiliza amplamente os mesmos conceitos para descrever conflitos – atores, causas, dinâmicas, gatilhos e cenários. Dentro da literatura política e praticante, há um consenso geral sobre como usar e entender estes termos, como explicado nos muitos toolkits e manuais. Alguns criticam as palavras usadas nos toolkits como sendo tecnocráticas, e assim disfarçando a natureza política destes problemas (por exemplo, Mac Ginty, 2013) – como a idéia de causas estruturais. A caixa seguinte resume as principais questões orientadoras da análise de conflitos e exemplos da sua aplicação prática.

Conflict profile

The overarching question for the conflict profile is-what is the context that shapes conflict? A caixa no final desta página apresenta exercícios práticos para analisar o perfil de conflito e a dinâmica. Por exemplo, veja o cronograma abaixo dos eventos de conflito na Libéria (1977-2011).

Figura 1: cronologia dos eventos de conflito na Libéria (1977-2011)

Guiding questions for conflict analysis

Profile: What is the context that shapes conflict?Há uma história de conflito? (por exemplo, quando? Quantas pessoas morreram e foram deslocadas? Quem é o alvo? Métodos de violência? Onde?)

  • que instituições e estruturas políticas, económicas, sociais e ambientais moldaram o conflito? (por exemplo, eleições, processos de reforma, crescimento económico, desigualdade, emprego, grupos sociais e composição, demografia e exploração dos recursos)
  • atores: quem são os atores que influenciam o conflito?

    • quem são os principais actores? (como. os militares, líderes e comandantes de grupos armados não-estatais, os grupos criminosos)
    • Quais são os seus interesses, preocupações, objetivos, esperanças, medos, estratégias, posições, preferências, visões de mundo, expectativas e motivações? (por exemplo, autonomia, desigualdade entre grupos (“desigualdade horizontal”), poder político, etno-nacionalista, reparações)
    • que poder têm, como exercem o poder, que recursos ou apoio têm, são vulneráveis? (como. legitimidade local através do fornecimento de segurança, poder sobre instituições de Justiça corruptas, armas e capacidade de danificar infra-estrutura)
    • quais são os seus incentivos e desincentivos para o conflito e a paz? (por exemplo, beneficiar ou perder da economia de guerra, prestígio, retribuição por queixas históricas)
    • que capacidades têm para afectar o contexto?Quem poderia ser considerado spoilers? O que divide as pessoas? Quem exerce a liderança e como? (como. beneficiários econômicos de conflitos, grupos criminosos, líder da oposição)
    • o que poderia ser considerado capacidades para a paz? Há grupos que apelam à não violência? O que liga as pessoas através de linhas de conflito? Como as pessoas cooperam? Quem exerce a liderança pela paz e como? (por exemplo, sociedade civil, autoridades religiosas, mecanismos de justiça local)
    • quais são as relações entre actores, quais são as tendências, Qual é o equilíbrio estratégico entre actores (quem está a “ganhar”)? (por exemplo, relações conflituosas, cooperativas ou empresariais))

    causas: O que causa conflitos? Quais são as causas estruturais do conflito? (por exemplo, distribuição desigual da terra, exclusão Política, má governação, impunidade, falta de autoridade do estado)

  • quais são as causas próximas do conflito? (por exemplo, proliferação de armas, redes criminosas ilícitas, emergência de intervenientes armados não estatais em autodefesa, excesso de conflitos de um país vizinho, descobertas de recursos naturais)
  • dinâmica: quais são as atuais dinâmicas/tendências de conflitos?

    • quais são as tendências atuais dos conflitos? Quais são as recentes mudanças de comportamento? (por exemplo, os actos de conflito aumentaram, mas o número de mortes diminuiu; a violência política intensificou-se em torno das eleições locais; as despesas com a defesa aumentaram; os paramilitares começaram a concorrer nas eleições locais)
    • quais os factores do perfil de conflito, actores e causas que se reforçam ou minam? Quais fatores equilibram ou atenuam outros? (por exemplo, desigualdades econômicas e políticas horizontais podem aumentar o risco de conflito; a incerteza sobre a sucessão do Presidente fortalece o fracionismo partidário; dinheiro para o desarmamento, a desmobilização e a reintegração combustíveis para a proliferação de armas de pequeno calibre)
    • o que desencadeia o conflito? (por exemplo, eleições, choques econômicos e ambientais, crash econômico, um assassinato, golpe, aumentos de preços dos alimentos, um escândalo de corrupção)
    • que cenários podem ser desenvolvidos? (por exemplo, na melhor das hipóteses: um acordo de paz é assinado rapidamente e as partes em conflito implementam um cessar-fogo; na pior das hipóteses: os políticos locais mobilizam – se segundo linhas étnicas na perspectiva das eleições e a violência política e os tumultos aumentam quando os grupos se reúnem)

    fontes: Fisher et al. (2000); lessen et al. (2004); Conflict sensitive Consortium (2012); CDA Collaborative (2013); DFID (2015); Mason & Rychard (2005).

    actores

    a questão principal aqui é-quem são os actores que influenciam o conflito e a paz? (Ver a caixa acima para sub-perguntas e exemplos).

    a caixa abaixo apresenta exercícios práticos para a análise dos intervenientes. Por exemplo, a Figura 2 mostra como desenhar um mapeamento de ator, e a Figura 3 mostra a ferramenta onion para explorar as posições, interesses e necessidades dos atores.

    Figura 2: Cartografia do Actor: exemplo de um mapa básico de conflitos

    ‘Spoilers’ são indivíduos ou grupos que buscam ativamente impedir, atrasar ou minar a resolução de conflitos (Newman & Richmond, 2006). Eles muitas vezes se beneficiam do sistema de guerra, e seriam afetados negativamente por um fim ao conflito. Isto é semelhante à ideia de “divisores”, que são fatores negativos que aumentam as tensões entre pessoas ou grupos, reduzem a sua capacidade de resolver conflitos sem violência e podem levar a conflitos violentos.

    “capacidades para a paz” refere-se a actores, instituições ou relações que têm o desejo e/ou a capacidade de promover a paz. Isto é semelhante à ideia de “conectores”, que são fatores positivos que reduzem as tensões entre pessoas ou grupos, melhoram a coesão e promovem a colaboração construtiva (CAD da OCDE, 2007). Pode ser útil pensar sobre o que divide e conecta as pessoas, e o papel que spoilers e capacidades para a paz desempenham em entrincheirar ou superar essas divisões.

    para compreender a distribuição e o controlo do poder face ao conflito, alguns doadores concentram-se naquilo que os actores são incluídos/excluídos da “solução política”. Enquanto as definições variam, e é contestado conceito, este Tópico Guia entende o acordo político, como “o informal e o formal, processos, contratos e práticas que ajudam a consolidar a política, em vez de violência, como um meio para lidar com divergências sobre os interesses, idéias e a distribuição e uso de poder” (Leis & Leftwich, de 2014: 1). A ideia é que, para que um acordo político seja estável e não violento, ele precisa ser inclusivo de 1) as elites que têm o poder de perturbar a paz e, alguns argumentam, também 2) grupos sociais mais amplos que estão atualmente marginalizados do poder (por exemplo, povos indígenas, mulheres) (por exemplo, DFID, 2015). A questão de saber quem incluir e como depende de como os actores interagem (por exemplo, as elites excluídas do acordo político mobilizam o apoio de grupos marginalizados?)

    Figura 3: Análise de atores cebolas-posições, interesses e necessidades dos atores em Chiapas, México

    causa

    a questão principal aqui é-o que causa conflito? (Ver a caixa acima para sub-perguntas e exemplos.)

    Atores lutam por ‘problemas’, e os conflitos são complexos e multi-causal, portanto, é útil distinguir entre diferentes tipos de causas, fatores de influência, e os resultados, e para diferenciar as fontes de tensões ou de divisões que afetam grande ou pequeno número de pessoas a nível local, sub-nacional, nacional, regional e internacional (DFID, 2015).As causas estruturais do conflito (também chamadas causas profundas ou causas subjacentes) são causas de longo prazo ou sistêmicas de conflitos violentos que se tornaram incorporadas nas normas, estruturas e políticas de uma sociedade. Causas próximas de conflitos (também chamadas causas imediatas) são causas mais recentes que mudam mais rapidamente, que podem acentuar causas estruturais e que levam a uma escalada de conflitos violentos.

    Figura 4: Árvore de conflitos para visualizar as causas de conflitos no Quénia

    em última análise, estas são questões políticas, envolvendo poder, contestação entre atores e formação de instituições para o benefício de alguns (e à custa de outros). As causas originais do conflito podem não ser os mesmos fatores que sustentam a guerra – por exemplo, o conflito pode ter motivações políticas e sociais, mas ser prolongado por motivações econômicas, criando desincentivos para a paz (Berdal & Keen, 1997). É, pois, importante adoptar uma abordagem cronológica, contextual e dinâmica ao iniciar a análise para poder compreender como o conflito se desenvolveu ao longo do tempo. Isto significa olhar para os resultados, bem como as causas do conflito (Woodward, 2007).

    Analysis of violent extremism: part of conflict analysis?

    os conjuntos de ferramentas de Análise de conflitos não incluem categorias explícitas para analisar o extremismo violento, mas, quando relevante, ele emergirá através da análise dos atores, causas e dinâmicas do conflito. À medida que a agenda de desenvolvimento se alarga de modo a incluir a radicalização, os decisores políticos estão a ligar cada vez mais estes últimos aos factores de conflito em contextos específicos.A Gsdrc Topic Guide on Countering Violent Extremism (Schomerus et al., 2017) destaca que, embora a pesquisa seja extremamente limitada, debates recentes sobre o foco em “fatores de impulso e puxão” (por exemplo, o papel das relações pessoais; crenças, valores e convicções; narrativas da história; rejeição de um sistema; etc.). O Guia encontra fraca evidência para alguns fatores de influência comumente declarados (por exemplo, pobreza, fé religiosa, falta de educação, etc.).

    dinâmica

    a questão principal aqui é-quais são as dinâmicas/tendências actuais de conflitos? (Ver a caixa acima para sub-perguntas e exemplos.) A dinâmica resulta da interação do perfil de conflito, atores e causas, e eles podem ser desencadeados por eventos (menos et al., 2004: 5) (ver Figura 5 infra). O foco na dinâmica ajuda a entender se, por que e como o conflito está escalando, intensificando, diminuindo, espalhando, contraindo, em impasse, etc. (DFID, 2015). A caixa abaixo apresenta exercícios práticos para analisar a dinâmica de conflitos.

    Figura 5: visualizar a dinâmica do conflito –
    como os intervenientes, as causas e o perfil do conflito interagem

    a análise deve centrar-se tanto na violência latente como na violência manifesta, a fim de poder identificar potenciais surtos de violência. A ideia do “temperamento” de um conflito relaciona-se com a forma como as pessoas são transformadas por um conflito ou a energia de um conflito (Mason & Rychard, 2005). A literatura tem visto um foco crescente na compreensão dos processos através dos quais as questões de conflito se tornam tão salientes que os líderes se mobilizam em torno deles, e na identificação de oportunidades de transição que podem ajudar a quebrar ciclos de violência e fragilidade dos Estados, em vez de, como antes, desenvolver tipologias de questões que causam conflitos (Banco Mundial, 2011; Jabri, 1996). A análise da dinâmica garante que a análise de conflitos não produz apenas listas detalhadas, mas uma compreensão da dinâmica e da interação dos diferentes elementos.

    gatilhos são eventos únicos, ou a antecipação de um evento, que pode mudar a intensidade ou direção de conflitos violentos (por exemplo, eleições, crise econômica, um desastre natural, etc.). Cenários descrevem possíveis futuros imaginados e / ou contar a história de como tais futuros podem vir a acontecer (Bishop et al., 2007). Através da análise das potenciais interacções futuras do perfil de conflito, actores, causas e dinâmicas, podem ser desenvolvidos vários cenários diferentes e concorrentes. Estes podem ser enquadrados como cenários melhor-caso, Médio-caso, pior-caso, mais provável-caso ou status-quo-o enquadramento normativo do que é “melhor” dependerá do objeto de estudo e da perspectiva do pesquisador (por exemplo, se o objetivo é estabilidade ou paz sustentável). Ou eles podem ser enquadrados em torno de narrativas da história – por exemplo, em uma análise sobre as eleições em perspectiva na Serra Leoa, três cenários foram apresentados: Cenário 1: violência eleitoral; Cenário 2: Impasse regional; Cenário 3: juventude, drogas e violência (Adolfo, 2010: 49).

    exercícios Práticos para análise de conflitos

    Perfil e a dinâmica

    • traçado de um gráfico de eventos dá um sentido de tempo, frequência, tendências e fases do conflito (veja a Figura 1). Os eventos de conflito podem ser desagregados, e.g. por tipo de ato de conflito, autor/ator de conflito, causa de conflito, etc.
    • desenhar um mapa ou mapas através de períodos de tempo para visualizar tendências, por exemplo, com eventos de conflito ou controlo territorial de diferentes actores.
    • desenhar um cronograma de eventos históricos de conflitos, fases e gatilhos para ajudar a identificar tendências, padrões temporais e potenciais gatilhos. Isto pode então ser analisado à luz de futuros acontecimentos (por exemplo, eleições, processos de reforma, tumultos de jovens).
    • o modelo Glasl conceitualiza a escalada “como um movimento descendente, onde as partes em conflito são sugadas para a dinâmica de conflitos” (Mason & Rychard, 2005). Os nove níveis de escalada são (ibidem.):
      1) o Endurecimento de posições, mas ainda a crença em discussão para resolver o conflito;
      2) Debate, polêmica e polarização;
      3) Ações, não palavras, o perigo da falsa interpretação;
      4) Imagens e coligações, os partidos ver o outro como negativo funções e lutar contra essas funções;
      5) Perda de cara, uma grande etapa de escalonamento;
      6) Estratégias de ameaças e contra-ameaças;
      7) golpes destrutivos limitados, desumanização, valores móveis;
      8) fragmentação e destruição do sistema dos adversários é o objetivo;
      9) juntos no abismo, confronto total sem qualquer possibilidade de retroceder. A autodestruição é o preço da destruição do adversário.
    • ‘Multi-Causal Role Model: This model focus on causation, on the different quality of reasons, triggers, channels, catalysts, and targets. Conteúdo e atores, dinâmica e estruturas também são considerados ” (Mason & Rychard, 2005).O mapeamento de atores ou atores pode ser uma ferramenta útil para obter uma imagem gráfica do poder relativo dos atores no conflito, suas relações e as questões de conflito entre eles. Diferentes mapeamentos representando diferentes perspectivas podem ser úteis para entender diferentes perspectivas (Fisher et al., 2000) (ver Figura 2).
    • a ferramenta gráfica do triângulo ABC é usada para examinar as atitudes, comportamentos e contexto dos actores (representados graficamente num triângulo) e comparar as diferentes perspectivas (Mitchell, in Fisher et al., 2000: 25-7).
    • a ferramenta gráfica de cebola é usada para examinar as posições públicas dos atores (a camada externa), interesses (a Camada Média) e necessidades (camada interna) (Fisher et al., 2000: 27) (ver Figura 3). Pode ser utilizado para examinar os interesses concorrentes dos intervenientes e para identificar possíveis compromissos.
    • a ferramenta gráfica piramidal é usada para examinar os diferentes níveis de stakeholders em um conflito-começando com os principais atores de conflito no nível superior (adaptado de Lederach, em Fisher et al., 2000: 33-4).

    causa

    • a ferramenta gráfica da árvore de conflitos é usada para examinar o(S) problema (s) central (o tronco da árvore), causas (as raízes) e efeitos (os ramos e folhas). Ele visualiza como fatores estruturais e dinâmicos interagem para levar a conflitos (ver Figura 4) (Fisher et al., 2000: 29; Mason & Rychard, 2005).
    • a ferramenta gráfica de análise de campo de forças é usada para examinar as diferentes forças que influenciam um conflito (Fisher et al., 2000: 30–1).
    • a ferramenta gráfica pilares é usada para examinar os fatores ou forças que contribuem para criar conflitos (com base em Goss-Mayr, em Fisher et al., 2000: 31).
    • o modelo de ganância e mágoa faz listas das causas do conflito de acordo com se eles se relacionam com a ganância ou mágoa (Vaux, 2015: 4).

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